Depressão infantil: presença em nosso cotidiano

Muito tem se falado sobre depressão em razão da vida que temos levado. Frases como: “Nunca fomos tão tristes”; “Depressão, o mal do século”; “O segmento farmacêutico está lucrando com ansiolíticos e antidepressivos” estão cada vez mais frequentes nas rodas de conversas. Mas afinal, estamos refletindo que um adulto, ao enfrentar este problema, pode ter carregado elementos do mundo infantil? Que ele, de repente, não ficou deprimido com a rotina adulta, mas que sempre foi deprimido?

Precisamos voltar os olhos para os nossos pequenos e identificar alguns sinais:

  1. Quais as escolhas que seu filho tem feito na hora de assistir a desenhos ou filmes? Os cheios de ação e movimento ou os mais fantasiosos e emotivos?
  2. Que tipo de literatura (historinhas) o atrai? Histórias nas quais o personagem é uma vítima sofrida, que vivencia rejeição e desamor?
  3. Mesmo com a casa cheia, o seu filho se isola com algum brinquedo ou interage? Mostra-se integrado ou com sentimento de não-pertencimento?
  4. Suas narrativas apresentam muitos pensamentos mágicos de transformação, incluindo a solicitação de mais presença de algum membro da família? Exemplo: se eu pudesse, o papai não viajaria mais!
  5. Traz sentimento de se sentir diferente dos amigos da escola, esporte, grupos do condomínio ou da rua? Acha que não é querido?
  6. Conta sofrimentos de colegas sempre carregados de injustiça e crueldades juvenis?
  7. Rói unha, fere-se com cortes ou aparece com roxos pelo corpo, marcas típicas de autopunição?
  8. Possui pensamentos negativos sobre os desafios escolares, esportivos e festividades familiares?
  9. Observa a relação dos pais com as outras crianças com ar de desconfiança e ciúme, e depois recua dos mesmos, rejeitando afagos e carinhos?
  10. Não é convidado para eventos dos amiguinhos e sempre acha uma justificativa?
  11. Tem baixa autoestima, sempre falando de si com descrédito ou falsa autoestima, exagerando em seus predicados, mostrando-se claramente uma defesa?

Esses são sinais e não regras para atestar uma tristeza ou depressão. Sinais são oportunidades para que possamos dialogar e ajudar nossos filhos. Nenhum adolescente que demonstra desamor à vida desenvolveu esse sentimento da noite para o dia. Os altos índices de problemas psiquiátricos em adolescentes e adultos geralmente incluem situações oriundas da infância.

Dialogar com os nossos filhos significa dar abertura para ouvi-los, entender a sua dor, sem julgamento e apontamento. É permitir que ele se abra e trabalhe a sua dor, os seus receios e as suas “neuras”. Às vezes a simples chegada de mais um membro da família pode desencadear uma insegurança seguida de tristeza. Pais cuidadosos, ao perceberem, precisam conversar com seu filho e gerar um ambiente seguro de amor e cumplicidade. Considerar a dor do outro, sem banalizá-la, é o primeiro passo para o conforto e a retomada dos sentimentos construtivos. Não podemos esperar de uma criança o que muitos adultos não conseguem fazer: refletir sobre a dor interna, compreendê-la e traçar estratégias para superá-las.

Um erro muito recorrente que encontro como terapeuta familiar são pais de filhos estudiosos e “aparentemente bem-sucedidos” na escola e demais aulas extras ignorarem o pedido de socorro emocional. Ter excelentes notas e sucesso no ballet ou judô, por exemplo, não significa que a carga não pode estar pesada demais para ele/ ela. Muitas vezes o esforço de ser modelo e agradar traz uma carga emocional muito sofrida e pesada para administrar. Você já perguntou ao seu filho se ele é feliz com as suas escolhas? Se está bem com a sua rotina? Se ele mostrar-se arrependido por uma escolha ou que está pesado demais, negocie. Não ensine a abandonar; administre a rotina e coloque data para concluir, como o término de um semestre, por exemplo. Só de ele saber que pode negociar, se sentirá ouvido e poderá até, após o alívio da obrigatoriedade, desistir de desistir.

Quais valores você tem trabalhado com sua prole? Frequentar a família, ter religião, passeios em harmonia familiar, desenvolver o respeito à hierarquia familiar, fazer visitas, gerar sentimentos de generosidade e doação também ajudarão seus filhos a possuírem sentido à vida. Precisamos mostrar que o mundo é muito além do egoísmo que temos permitido em nossos lares.

Fiquem de olho!

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