Eles não confiam na escola

Fabíola Sperandio T. do Couto 

Pais não podem mandar na escola, pais mandam em casa. Por que os pais estão desconfiando da escola que escolheram para os seus filhos? Por que tanto ataque às instituições? O que os pais estão ensinando a seus filhos quando denigrem a instituição que ELES MESMOS escolheram? Por que desconsideram os anos de experiência dos profissionais e se intitulam educadores dando “pitacos” a todo momento? O que está acontecendo com esta geração de pais?
Já não tem sido fácil encontrar jovens que escolham como profissão a educação e acredito que o motivo principal seja a vivência a que têm assistido nas escolas e em suas famílias quando o assunto é a formação acadêmica. Quem vai escolher uma profissão que a maioria não valoriza ou respeita?
Os pais desta geração estão esquecendo que passaram por uma instituição que colaborou com o seu saber acadêmico e a sua formação humana. Estão tão imaturos que olham para as escolas como rivais e não como parceiras. Julgam os profissionais, até hostilizam e, para piorar, muitas vezes, na presença das crianças. Desautorizam quem deveria ter “passe livre” para gerar conhecimento. Percebo que muitos pais entregam seus filhos à escola como príncipes e princesas. Desejam que as escolas mimem seus filhos, cuidem deles como babás. A escola recebe os seus filhos como alunos e alunas, e quem estará com eles é um profissional. Um profissional da educação que se preocupará com o desenvolvimento social e intelectual de seu filho(a). Como pais, desejam exclusividade, o profissional deseja interações coletivas, pois acredita na aquisição do saber pela troca de vivências. Exclusividade se tem em casa. Tratar a criança “no individual” é diferente de dar exclusividade. O professor tem que buscar compreender a forma de aprender da criança e buscar uma linguagem que a faça conquistar o aprendizado. Isso sim é possível. Porém dividir a atenção e o cuidado com outras crianças faz parte do aprendizado da vida em sociedade: jogos; trabalhos coletivos; parque; brinquedoteca; entre tantas opções que permitem a relação estreita entre os educandos e o conhecimento. Por mais especial que seu filho seja, dentro da instituição escolar, ele faz parte de um grupo, e o professor precisa lidar com várias crianças ao mesmo tempo.
Você já parou para pensar que todos nós temos um comportamento diferente quando estamos sozinhos e em grupo? Seu filho não é diferente. Aceitar que ele pode ter um comportamento em casa e outro na escola, longe dos pais, quando está socializando e interagindo com os demais adultos e crianças de sua idade, faz parte do crescimento dos pais.
A professora pode identificar em seus filhos dificuldades que você nem sempre percebe. Isso não significa que seu filho seja problemático, que tenha um problema. A profissional apenas auxilia a família na percepção do processamento da aprendizagem. Após trocas entre a família e a escola chegarão, a ferramentas para ajudá-lo ou falarão sobre a inserção de outros profissionais. Caberá aí uma união para vencer alguma etapa. E, caso seu filho apresente baixo desempenho acadêmico, antes de culpar a professora ou a escola, uma autorreflexão valerá muito a pena sobre como tem sido sua participação no processo de aprendizagem dele.
A escola vai ensinar ao seu filho regras e limites. Isso é imprescindível. Não a impeça de atuar quando o seu filho burlar alguma regra. Agora, dê o exemplo. Como exigir que seu filho seja dedicado, responsável com a escola, se você não valoriza a instituição? Como ensiná-lo a cumprir normas se você o deixa ir sem uniforme? Como ensiná-lo a ser pontual se você, não é? “O exemplo vale mais que palavras”. Com a tecnologia tão presente em nosso dia a dia, muito cuidado com os recursos tecnológicos. Fique atento ao que você posta em listas de e-mails ou grupos de mães e pais em redes sociais. Se você escolheu uma escola, é porque confia no trabalho dela. Ou não? Por qual motivo você matriculou seu filho na escola? Se não confia ou se está incomodado com algo que aconteceu, procure a direção, a coordenação ou os professores para saber por que a escola teve determinada atitude. Nem tudo o que a criança leva como informação corresponde, exatamente, o como aconteceu. Busque a informação na fonte. Por isso, tenha responsabilidade também para não expor outras crianças ou discutir conflitos entre alunos que podem já ter sido mediados e solucionados. (Leia http://ludovica.opopular.com.br/blogs/educar-faz- parte/educar-faz- parte-1.962126/o- whatsapp-invadiu- o-ambiente- escolar-1.1075510). Não caiam na imaturidade de acreditar que existe uma escola perfeita, florida e harmônica para sua princesa/ seu príncipe passear. Existe uma escola real. A escola real é a maior rede social em que seu filho está inserido. Nesta escola real, acontecerá a verdadeira aprendizagem acadêmica e de mundo. Não impeça seu filho de lidar com a realidade. E a realidade traz muitas alegrias e também algumas frustrações. As alegrias e as frustrações farão seus filhos crescerem. Crescidos, agradecerão a oportunidade dada pela família e pela escola.
Agora, se você ainda como pai não amadureceu, amadureça junto com o seu filho nesta nova chance dada pela maior e melhor educadora que é a ESCOLA. Participe saudavelmente deste universo escolar. Você será muito mais feliz enxergando os benefícios da escola do que procurando defeitos para apontar. Quero lhe fazer um convite. Vá até a escola de seu filho. Visite-a como nunca tenha feito. Observe com olhos de gratidão. Olhe para os professores como se agradecesse pelo bem que estão fazendo para o futuro do seu filho. Convido-o a respeitar as pessoas que compõem a escola de seu filho. Viva a escola e tudo que ela tem a oferecer.


Fabíola Sperandio T. do Couto é Pedagoga, Psicopedagoga e Terapeuta de Família e Casais. Atua em educação desde 1984 e em consultório desde 1999. É Diretora Pedagógica de uma instituição privada do Maternal ao 9ºano, palestrante e consultora na área educacional e familiar. Escreve semanalmente para o blog Educar Faz Parte (Organização Jaime Câmara/Globo/Ludovica).



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