Ouvir sobre ações preconceituosas, infelizmente, virou rotina nos ambientes sociais: família; igreja; escolas. Não há um único dia que não nos deparemos com frases, piadas e ações de exclusão e exposição. As inúmeras campanhas televisivas, digitais, projetos de conscientização sobre o bullying, leis criadas para coibir ainda não impediram atos tão dolorosos e maldosos. E qual a origem disso?
Triste dizer que existe uma cultura que reproduz o preconceito. Lembrando que a criança, ao nascer, não sabe o que é preconceito, este comportamento é aprendido. E os primeiros professores são os familiares. Triste, né?
Outra curiosidade do nosso cotidiano é que ações preconceituosas viram piadas e diversão até o momento em que a vítima “é um dos nossos”. Ahhh, aí o “bicho pega”! E mais uma vez ensinamos outro conceito a respeito: pode sim aos outros, mas não comigo. E o que fazemos com o ensinamento “Não faça com o outro aquilo que não gostaria que fizessem com você”?
Esses dias, caminhando em um supermercado elitizado da cidade, observei uma família muito peculiar. A mãe dizia estar ensinando ao filho fazer compras. Com isso, indicava as prateleiras onde se encontravam certos produtos que estavam presentes em uma lista de compras trazida de casa. Ela comentava com uma amiga que fez a lista com o filho, mostrando que não se vai às compras sem saber o que necessita e que queria prepará-lo para vida em todos os aspectos, incluindo a economia.
Até aqui parecia uma ação sensata e muito madura. Eu até a admirei por permitir que o filho aprendesse na prática o que são necessidades, busca de produtos com qualidade e preço. E ainda a soma paralela do que se comprava mediante o valor disponível para o pagamento.
Fiquei tão interessada que disfarçava entre uma prateleira e outra para observá-los. Tinha a intenção de vivenciar esta experiência com eles. Estava admirando esta mulher até que…
Até que o ensinamento de onde os produtos se encontravam começou a trazer conteúdos preconceituosos: “Filho, este produto fica na prateleira após estes dois corredores, bem do lado daquele gordo ali.” “Pequeno, este produto realmente é mais barato, mas deixa aquele cheiro de perfume de pobre, escolhe outro”; “Deus me livre desta marca de macarrão. Ao cozinhar ficará parecendo lavagem ou merenda de grupo escolar”; “Amor, eu já te falei que devemos economizar, mas com cautela; não estamos comprando com cartão bolsa-família”. A cada frase, a mãe, muito bem vestida e em um salto que nada combinava com uma tarde de supermercado, soltava uma gargalhada como se debochasse ou imaginasse a cena.
Já intrigada e até irritada, permanecia agora observando como este adolescente de uns 12 anos reagia às frases preconceituosas. Não me surpreendi quando o vi cansando-se da “brincadeira de aprender a fazer compras” e MANDOU a mãe ligar para o motorista para embalar e carregar as compras. Em seguida, ainda ordenou que fossem a uma confeitaria, porque tudo isso havia lhe despertado um desejo de algo bem saboroso para comer.
Mediante essa cena, fiquei imaginando o que, de verdade, este adolescente havia aprendido. Por trabalhar em uma instituição escolar, é claro que me peguei pensando em como ele reproduziria isso na escola em que estava inserido.
Se o dever da família é educar seus filhos para serem cidadãos de bem e a escola completar este papel, como ficaria esta criança entre o exemplo prático e os ensinamentos teórico-reflexivos? Quais questionamentos ela fará a esta família quando estiver frente aos projetos educacionais? Como ela se sentirá se percebendo reproduzindo ações preconceituosas com os amigos e familiares?
Devemos ensinar nossas crianças a reconhecer os preconceitos e combatê-los. Ter um olhar generoso às diferenças é um caminho muito importante para uma convivência harmoniosa e de muito aprendizado. Sentimentos despertados com a convivência social são oportunidades de evolução e maturidade: frustrações, intolerância, medo, raiva. Não podemos permitir que as crianças, por sentirem-se muitas vezes insatisfeitas com algo, devolvam agressão ao próximo. E muitas vezes esta agressão tem vindo em um formato de frases preconceituosas, ofensivas. Hoje se “bate” mais com a palavra do que com a força física entre os jovens. E o que estamos fazendo contra isso?
Se as campanhas ostensivas ainda não coibiram tais ações, peço às famílias que tenham uma EDUCAÇÃO OSTENSIVA. Não permitam atitudes de preconceito em seu lar. Conversem sobre o assunto sempre que precisarem. Ensinem os seus familiares a verdadeira essência da palavra RESPEITO. Se começar de casa, todos os outros ambientes serão contemplados. Vamos nos educar para que possamos educar o outro. Vamos melhorar este mundo AGORA!