Existe diferença entre a criação de menino e menina? Você já parou para pensar sobre isso? Quero refletir sobre o que temos ensinado aos nossos meninos. São tantos acontecimentos atualmente que percebo as famílias voltadas para a reflexão de qual tem sido a sua colaboração na criação dos filhos.
Falando em meninos posso destacar com tranquilidade que ao receber a notícia da chegada de um garotinho à família, vários comentários já começam a surgir entre os familiares. Comentários que só são feitos ao gênero masculino: “Segurem as cabritas que o bode chegou”; “Mais um sacudo para honrar a família”; “Já temos o nosso time de futebol com esse artilheiro”, entre tantas outras frases de comemoração entre os membros do mesmo sexo da família.
Sem perceber, perpetuamos através das frases um comportamento instalado há muitos anos, que nada tem a ver com o momento e a evolução que vivemos, ou deveríamos viver. Um menino ao chegar não pode trazer consigo a perpetuação de um comportamento que o faz sentir-se responsável por dar continuidade ao que os adultos do mesmo sexo, às vezes, nem mais acreditam, porém reproduzem falas por tradição. Tradição?
Precisamos entender o menino de hoje. Primeiro as famílias e as escolas precisam perceber que os meninos e as meninas possuem diferenças e que as diferenças são comuns entre as pessoas, o que significa que somos diferentes independentemente do gênero: masculino e feminino. Se acreditamos nisso, derrubamos a tradição de determinados comportamentos, como, por exemplo, a escolha da profissão, os tipos de brincadeiras e vocabulários.
Meninos e meninas precisam ser criados para:
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serem gentis com as pessoas independentemente se são meninos ou meninas, criança ou idoso, todos merecem respeito e um vocabulário adequado;
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que ambos sejam importantes, que possuam a mesma capacidade intelectual e possam experimentar o aprender das habilidades e competências. Não é o sexo que determinará se aprenderão ou não determinado conteúdo e sim a dedicação e determinação;
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serem colaboradores nas tarefas domésticas. Que arrumar uma cama, secar uma louça ou qualquer outra tarefa só os tornará pessoas mais preparadas para vida: morar fora por motivos de estudo; criação de filhos e uma vida matrimonial colaborativa;
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que entendam que ambos são importantes no mercado de trabalho. Cada um terá a chance de mostrar suas habilidades e competências e colherem o fruto do sucesso. Que não se determina o provedor pelo gênero e sim, pelo momento que cada um se encontra profissionalmente;
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que a escolha do esporte é por afinidade. Que ambos podem se destacar em qualquer modalidade esportiva e ser respeitados por suas escolhas;
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que percebam que a sensibilidade não os tornará menos ou mais. Que saibam perceber que podem expressar suas emoções sem julgamentos ou que isso os transforme em um chorão e/ou uma sensível. Que meninos e meninas choram, sensibilizam, são empáticos, solidarizam e que este conjunto os torna humanos;
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que meninos e meninas sejam expostos apenas ao que diz respeito a sua idade. Que jamais sejam agredidos com a inserção à pornografia, por exemplo, que não sejam estimulados ao “papel de machão” e “princesa moderna”. Que durante a sua vida infantil até a adolescência meninos e meninas sejam respeitados e não estimulados a relacionamentos: paqueras e namoros (muitas vezes ensinamentos de frases e gestos para meninos “pegarem” meninas).
Enfim, se ensinarmos aos meninos os valores éticos e morais, não iremos deparar com jovens e adultos sofridos em relações desastrosas porque não se respeitam e não sabem respeitar. Se a criança cresce estimulada a entender as diferenças além do gênero (masculino e feminino), evitaremos situações de constrangimento entre meninos e meninas, rapazes e moças, homens e mulheres, ao depararem com assédio, deselegância no vocabulário e ações preconceituosas.
Meninos precisam ser entendidos e respeitados em suas diferenças. Meninas precisam ser entendidas e respeitadas em suas diferenças. Entender e respeitar as suas escolhas e não impor o como devem se portar, escolher ou tratar o outro. Encontramos em pleno século XXI pessoas que ainda criam os seus filhos, quando falamos na criação diferenciada de meninos e meninas como o início dos tempos, lá na idade da pedra. Tenho absoluta certeza de que, ao ler “idade da pedra”, veio a sua memória a cena de um homem arrastando uma mulher pelos cabelos em um sinal de poder e submissão que não pode existir mais. Quem tem um filho, um menino, tem a missão de adequar a sua criação, deixando um legado de respeito e igualdade para que possamos ter um mundo melhor. Que meninos e meninas entendam que estão aptos à convivência saudável neste mundo ainda doentio.