Tenho recebido muitos laudos de adolescentes acometidos pela depressão. É claro que isso gera um efeito imediato em suas relações sociais, familiares e escolares. As consequências da depressão nos jovens aparecem de formas variadas – afinal, cada um apresenta-se em um estágio, de acordo com o grau de gravidade.
As falas são bem recorrentes. Esses adolescentes retratam uma mudança significativa em sua percepção do eu, uma distorção considerável da autoimagem e muita reclusão social. Sentem-se não compreendidos e pressionados.
Percebi-os buscando sempre uma escuta, desejando ser ouvidos e compreendidos, e uma grande necessidade de receber palavras de consolo, reconfortantes e de aceitação e confirmação para seus atos.
A tristeza e melancolia, acompanhadas ou não de crises de choro sem motivo aparente são bem frequentes. E se culpam por se sentirem assim.
Adquirem um hábito pesado de autocrítica e remoem muito situações acontecidas no passado.
Apresentam sensibilidade exacerbada a situações consideradas como de rejeição, críticas e bullying.
Relatam que sentem um buraco interno. Uma sensação de vazio enorme. Os familiares sempre trazem depoimentos de alterações de comportamento focados na irritabilidade, impaciência, falta de persistência e perda de interesse em atividades cotidianas, mesmo as prazerosas, tanto no seio familiar, como entre os colegas e amigos.
Os jovens se queixam de dificuldade de concentração e de memória. Já não se veem como estudantes de antes.
E, infelizmente, têm um sentimento crescente de que a vida não vale a pena. Completa visão pessimista e desolada do futuro. E, até, a presença da morte como um tema de pensamento frequente, gerando idealização suicida.
Os pais precisam estar atentos e devem observar muito seus filhos, se perceberem que apresentam insônia ou sono excessivo, mesmo após uma noite que deveria ser reparadora, mostrando sinal de cansaço e ausência de energia.
Se começam a negar a alimentação, com perda de apetite seguida de emagrecimento, ou excesso de apetite e gerando ganho de peso, é um sinal considerável.
Outra observação que faço em meus atendimentos, são as queixas frequentes de dores de cabeça ou no corpo sem explicação que as justifiquem.
Se perceberem que esse adolescente está muito lento ao raciocinar, pensar, falar e agir, liguem o alerta. Da mesma forma que a agitação e inquietação poderão aparecer, trazendo muita dificuldade de concentração.
E o que tudo isso acarreta, com certeza, é a queda no desempenho escolar. Esse sinal deve ser investigado sempre.
Outra grande preocupação é a fuga ou a busca através do uso de álcool e/ou drogas, gerando consequências desastrosas para o adolescente e para toda a família.
Não é normal um adolescente, em pleno momento de vivência em grupo, se isolar socialmente. Assim como ter uma aparência descuidada, aspecto desleixado, bem no momento que querem se destacar e ter a tão chamada “popularidade”.
Outro sinal seriíssimo é o comportamento desrespeitoso, agressivo ou de risco. Ações não espontâneas, caricatas, teatrais, como se estivessem representando algo, também são preocupantes.
Além disso, há a tão assustadora ação de automutilação e escarificações. Uma obsessão por tatuagens, furos e adornos pelo corpo.
É muito difícil separar o que é da fase da adolescência e o que é doença. Na dúvida, busque ajuda profissional. Faça uma avaliação. Entender o que é apenas um comportamento inadequado e o que passou do limite é uma tarefa muito difícil para os pais. E os adolescentes também precisam reconhecer isso e pedir ajuda.
A identificação da doença depressiva é delicada e pode ter consequências que passam pela omissão, chegando até a ações e rotulagens muitas vezes inadequadas e inconvenientes, que em nada ajudam nossos jovens.
Pais, familiares, professores, amigos ou outras pessoas que são próximas ao adolescente devem conversar com o jovem quando comportamentos e/ou sentimentos considerados não usuais começam a surgir. O diálogo terá como objetivo a distinção entre saber se o que está acontecendo é algo manejável pelo jovem e pelas pessoas as quais lhe são próximas, ou se já chegou o momento de procurar pessoas e/ou instituições especializadas. Caso sejam percebidas repercussões na vida pessoal, acadêmica, familiar ou social, um profissional de saúde mental, psicólogo ou psiquiatra deve ser consultado. É importante enfatizar que a percepção da gravidade do problema e a busca por ajuda pode partir do próprio adolescente.
Sugiro sempre o hábito do diálogo. Mesmo que, inicialmente, seja difícil. É preciso que nos interessemos mais por nossos jovens. Eles estão clamando por nós. É fundamental termos atitudes como:
- ir até o quarto dos adolescentes e entrar no mundo deles. Ficar com eles lá. Contar um acontecimento, fazer um lanche, jogar, interagir.
- convidá-los para ajudar em alguma situação familiar, como acompanhar na troca de pneus do carro, escolher um móvel novo, ajudar nas compras, trocar ideias sobre uma possível viagem. Envolvê-los.
- promover encontros divertidos para os amigos, como sessão de filme, lanches, pequenas baladas. Isso aproximará os pais dos filhos e dos amigos dos filhos, gerando observação de comportamento. Nos momentos lúdicos é que os conhecemos.
Além dessas, há muitas outras situações que a imaginação pode gerar. O que não podemos fazer é simplesmente cruzar os braços e aceitar esse número assustador de jovens infelizes e sem ajuda.