A cada dia nos deparamos com adultos que se vitimizam o tempo todo. E como Terapeuta Familiar, sempre busco a origem dessa vitimização. Percebo que esse é um papel apreendido, seja com o adulto que está próximo ou por algum momento que, ao se vitimizar, obteve ganhos.
E como trabalhar essa questão com os nossos pequenos? Primeiro, analise a ação dos adultos que convivem na rotina da criança. Caso encontre alguém que promova esse exemplo, trabalhe paralelamente esse adulto. A ação precisa ser conjunta.
Adultos queixosos ou cheios de justificativas para suas ações acabam por promover nas crianças o mesmo comportamento. Exemplo: “Não consigo fazer isso porque eu nunca tive quem me ensinasse”; “Sou antissocial porque meus pais nunca permitiram que eu me aproximasse das visitas”; “Não sei abraçar porque não tive colo”. Essas falas remetem ao receptor um sentimento de compaixão, e externar esse sentimento, seja de forma verbal ou corporal, enviará a mensagem ao emissor, de reforço negativo. Esse reforço produzirá um aprendizado que ter sofrido gerou uma empatia e a empatia gerou algum ganho. Compreende? Um verdadeiro círculo que produz uma postura de acomodação e que acabará por gerar uma autoestima baixa.
Percebendo que a sua criança está com uma tendência a ser “reclamona”, o primeiro passo é conversar sobre a queixa e promover uma reflexão de compreensão da situação. Exemplo: “Você nunca deixa eu dormir na minha amiga, mamãe”, “Eu nunca posso nada!”. Diante dessa queixa, a criança traz sentimento de injustiça, incompreensão da regra familiar, tristeza por não ser atendida, sensação de ter uma mãe má. Detectado o sentimento, o próximo passo é verificar se as regras familiares estão claras e empregadas por todos os responsáveis. Afinar o discurso entre o casal ou responsáveis é de suma importância para a saúde da criação. Percebendo divergências, a criança começa a articular esse movimento em prol do atendimento das suas vontades.
A partir dessa análise, a mudança da ação precisa ser diária e consistente: adultos e criança. Somente dessa forma será possível gerar mudança. Para entender o caminho proposto aqui, basta observarmos que tipo de expectativa entre o senso do que é justo e saudável estabelecemos ao longo de nossa existência baseada em nossas vivências infantis. É bem interessante quando nos percebemos com dó de nós mesmos. Quantas oportunidades perdemos por nos acharmos incapazes ou infelizes o suficiente para usufruirmos de algum tempo livre, nos candidatarmos a algum emprego, sermos cortejados por algum pretendente de quem não nos achamos à altura, receio de inscrevermos em algum curso, entre outras tantas ações, atitudes estas oriundas do exercício de vitimização na infância. Não queremos isso para os nossos filhos, não é mesmo? Então, mão na massa! Nada de cair nas chantagens deste pequeno ser que experimentou essa estratégia e que percebeu que, de repente, ela deu certo!