Vínculos afetivos: fonte de energia para o crescimento saudável

Desde que nascemos, experimentamos as alegrias e as tristezas construídas sempre em meio aos vínculos afetivos. Ao nascermos, somos “capturados” do ventre da mãe, nosso primeiro vínculo ocorre no ambiente intrauterino, para o mundo externo já recheado de pessoas sedentas pelas relações afetivas. A ruptura traz o choro, o choro traz o colo, o colo traz o aconchego, o aconchego traz as gracinhas familiares, que trarão a alegria. E assim se inicia o primeiro vínculo familiar afetivo. Os vínculos geram as emoções. As emoções trazem aprendizados. Os aprendizados trazem o apego. O apego afetivo passa a ter sentido de vínculo, pertencimento.

Assim como a alimentação, o afeto é o alimento vital para os bebês. Sem alimento, a criança morre; sem afeto, também se torna difícil sobreviver. E por que descuidamos tanto dos vínculos nos dias atuais?

Sabemos que a criança necessita do vínculo afetivo para a formação da sua personalidade. Este processo é construído a longo prazo pelas relações da família núcleo: pai, mãe e irmãos. É nessa relação parental que se conhecerá o amor, a compreensão e os laços.

A figura paterna exerce, e muitas vezes sem se dar conta disso, a inserção ao mundo além da mamãe. É o papai que apresenta a autonomia, afinal o bebê encara a mamãe como extensão do seu corpo. Ele não se reconhece separado da genitora. O seio da mãe é o reforço desta sensação. O pai então permite que ele esteja separado deste “corpo estendido” e promove o conhecimento de novas experiências. Esta relação inicial permitirá à criança entender e respeitar os limites, experimentar e conhecer espaços, ousar e recuar e, principalmente, ser amado e aprender a amar em cada gesto conduzido para autonomia e a proteção.

Mas será que este ideal narrado tem ocorrido? As famílias estão sendo constituídas com estes papéis tradicionais?

Em meio a tantos formatos familiares, precisamos conhecer quais são as necessidades das crianças para o seu crescimento saudável e oferecer o suporte que antes até instintivamente, acontecia na família formal.

Crianças necessitam receber amor para aprender a se amar e amar o próximo. Preservá-las das relações instáveis é importante para que não tenham receio de amar e ter vínculo. Pais que trocam constantemente de parceiros acabam gerando insegurança em seus filhos. Começam a gostar da madrasta ou do padrasto e pronto! Tudo acabou entre os pais e a criança é obrigada a esquecer e nunca mais conviver com este alguém que estava amando ou aprendendo a amar.

Essa instabilidade dos pais traz ensinamentos aos filhos. E o maior ensinamento acaba sendo que as relações poderão ser artificiais e passageiras. Sendo assim, inconscientemente se protegem. Se protegendo, não se entregam. Não se entregando, deixam de ser inteiros. Não sendo inteiros, correm o risco da relação breve. E assim tem sido a geração atual. Crianças, adolescentes e adultos cheios de medo de se machucarem ao deparar com a possibilidade de se criar um vínculo afetivo.

As relações parentais, de amizades e amorosas correm os mesmos riscos. Por quê? Exemplos: não posso aprender a gostar da babá porque hoje a babá fica meses, antes permanecia 20 anos na mesma família; não posso gostar da vovó porque, ao primeiro desentendimento entre a mãe da criança e a vovó materna, poderão ocorrer meses de afastamento; não posso gostar do amiguinho porque se os pais dele se separarem, ele irá para um colégio mais barato. Infelizmente são exemplos da atualidade.

E como proteger nossas crianças diante desta realidade?

Seja mais afetivo. Mostre seus vínculos duradouros: amigos de infância; parentes próximos. Amadureça as relações. Exercite o amor e a compreensão. Seja tolerante consigo e com o próximo. Não há outra forma melhor de ensinar que o exemplo. E quanto às relações novas, espere a estabilidade para inseri-las na vida da criança. Não a exponha ou a motive a ser simpática com o companheiro ou companheira nova se nem você sabe se será interessante esta relação.

Explique que existem pessoas temporárias e que, mesmo assim, não as impede de gostar. Essas pessoas são os coleguinhas da escola, alguns profissionais que ajudam em casa, profissionais da saúde, vizinhança.

As crianças aprendem muito conosco. O que estamos ensinando às nossas crianças sobre afetividade?

Vale ressaltar que ser afetivo não significa ser permissivo. Ser afetivo é dar amor. Amor também é limite e regra. Amor ao corrigir é ser doce com as palavras, porém firme no propósito educativo. É abrir para o diálogo sem fugir dos princípios e valores em que acredita. É educar o seu filho sem se importar com o que ele traz sobre o que “todo mundo faz”. Vocês não são pais de todo mundo, vocês são pais responsáveis pelo que seus filhos aprenderão sobre o mundo. Pais responsáveis pelo que seus filhos farão por um mundo mais consciente e melhor.

Recebam o meu carinho afetuoso.

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