Criança furta? O que fazer quando a minha criança chega em casa com algo que não é seu?

Existe uma fase na vida da criança em que ela sente a necessidade de saciar seus desejos: a fase do eu; do “tudo é meu”. É exatamente neste período que, muitas vezes, ela leva para casa algo que não lhe pertence: uma boneca da coleguinha, um apontador, um enfeite de cabelo, um carrinho. O primeiro alerta que quero fazer é que ela não possui nenhuma noção de FURTO e, diante disso, devemos deixar de lado o nosso desespero recheado de medos e julgamentos e agir com naturalidade.


Até os 4 e 5 anos, a criança não tem clareza que cometeu um furto, portanto ela não compreende que cometeu um delito, fez “um mal”. Ela simplesmente se afeiçoa ao objeto e o deseja. Ao desejá-lo, o subtrai para si e o leva. Não percebe que tirou do outro, mas que o trouxe para realizar a sua vontade de tê-lo.
Diante desta situação, os pais devem ser pacientes e companheiros. Deverão levar a criança a compreender que, quando ela pega algo do colega, o colega fica triste; proporcionar o movimento de colocar-se no lugar do outro (empatia) e motivá-los a devolver e se desculpar. É importante levá-los a entender que não é uma atitude correta, mas sem exageros e castigos, e sim aprendizado.
É preciso ficar claro que até os 5 anos, isso é bem comum acontecer. E que este ato não significa que existe algo emocional por trás: muitos falam em manifestação de carência afetiva, mas não vejo como um reflexo disso; apenas experiências que a vivência coletiva proporciona e que nos dão oportunidade de trabalhar valores e reforçar princípios. Preocupo-me muito com os alarmes exagerados, que assustam as crianças.
Furto é diferente de roubo. Furto está ligado ao contato com algo que estava à vista, fácil, ao alcance. Roubo já significa que tomou posse de algo que está com alguém e, que munido de violência física ou psicológica, a criança apropria, toma do outro. Desta forma, o roubo tem uma conotação diferenciada e pode aparecer após os 6 anos.
“Achado não é roubado” é um ditado que não podemos aceitar. Cabe aí uma necessidade de educar para aprender quais são os valores morais e éticos. Tudo o que surge no caminhar de nossas crianças precisa ser trabalhado para evolução e não para um escândalo que possa assustá-las e não ajudá-las a crescer.
Lembrar que a criança pequena tem uma dificuldade de entender que, fora do ambiente de casa, existem objetos que não lhe pertencem, é o primeiro caminho para compreender que seu filho não está cometendo um delito, apenas experimentando ações que saciam seu egocentrismo característico da faixa etária.
Um diálogo afetuoso mostrando as regras de convivência social e despertando para que nem tudo o que desejamos teremos, trará um momento riquíssimo na relação pais e filhos.
Se o objeto de que ela se apossou for de um familiar, de um colega do condomínio ou da escola, ensiná-la a devolver sem humilhá-la (sem longos discursos ou atos públicos) fará com que ela concretize o que aprendeu com os pais através do gesto de correção. Porém repito: não trate a situação como se a sua criança tivesse um desvio de conduta. Ela apenas desejou e achou que poderia obter. O desvio ocorrerá se tratarmos como fase sem orientação e, com certeza, ela internalizará a conduta como algo natural em sua vida. E, quando já estiver com a consciência de que não está certo tal atitude, como não houve ação da família, verá como um ato tão normal que não se importará com sentimento do outro (quem perdeu o objeto para ela) e se tornará insensível ao coletivo e focado no seu desejo pessoal a qualquer preço. Vamos dar o peso que cada ação tem a cada fase, mas vamos agir com sabedoria.
Nós somos os responsáveis por nossas crianças. Somos responsáveis pelo que apresentam e corrigimos, permitindo a sua evolução ou pelo que permanecem por nossa omissão. Sejam pais atuantes.

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