Recebi um pai aflito por perceber que o filho tem experiências virtuais inesperadas. E para piorar, o filho se decepcionou. A criança tinha a impressão de que podia controlar suas ações e as ações do outro e deparou-se com a fragilidade ao perceber que não controlamos nada e muito menos alguém.
Pai e filho inertes na minha frente, buscando ajuda para lidar com a frustração. Pai, pela decepção de se perceber alheio ao que o filho fazia. Criança, apavorada por se ver refém de outra pessoa. Como ensinar a eles que a vida prega esta peça: pensamos que dominamos tudo, mas na verdade, não controlamos nada?
Calmamente fui me inteirando de detalhes. Precisava entender o todo. A cada partilha, percebia duas pessoas encolhidas na poltrona. De repente, o pai solta a seguinte frase: “Uma modernidade que passa essa rasteira.” Busquei entender a essência dessa frase. O pai se culpava por não ter percebido que as ferramentas oferecidas ao filho, dentro de casa e em suas mãos (o mesmo, aos 8 anos, possuía um aparelho celular de último modelo), tinham possibilitado que o filho precocemente se envolvesse com algo tão assustador.
Agora esta criança não sabia o que fazer com o sentimento despertado. E o pai? Também não. Estavam reféns, fora do conforto que o “controle” aparentemente oferecia. E qual era a situação?
A criança tão pequena, com vocabulário tão aprimorado, havia entrado em um comércio virtual de compra e venda de jogos. Seduzida pelo dinheiro fácil e com a sua mesada significativa (para não dizer exagerada para uma criança), ela foi facilmente atraída para “o mundo de negócios”.
Acontece que “este mundo” não trouxe apenas a transação monetária. Junto com este movimento, a criança se encantou e foi seduzida por um adulto sexualmente. E ela acreditava que estava apaixonada e namorando este rapaz. Já se dizia, aos 8 anos, que estava segura de sua opção sexual.
Aprofundando mais no assunto com ambos, percebi no pai, além do peso da culpa, o medo do campo desconhecido. Já a criança, à medida que eu a levava a pensar sobre cada passo que ela trilhou, adquiriu uma postura na poltrona que ia mudando de encolhimento para projeção corporal em minha direção. Ambos estavam ansiosos por entender o que acontecia com eles.
À medida que fui mostrando que o controle que eles achavam que possuíam, pai achando que sabia tudo sobre o filho e o filho acreditando que tinha maturidade para tudo que fazia, na verdade, não existia e precisavam assumir isso e se abrirem para ajuda, ambos me encaravam e olhavam como se pedissem socorro.
Outra estratégia foi trabalhar a culpa e a vergonha. Mostrar para eles que esses sentimentos estavam controlando-os, e aí sim, existe controle, permitiu abrir ainda mais o canal de escuta para trilharmos um novo caminhar.
O atendimento se encerra com a clareza de que o pai precisava aproximar-se deste filho com uma presença de diálogo, redução de favorecimentos materiais e uma partilha de convivência mais efetiva. E à criança, com a certeza de que precisava ser pertencente ao mundo apropriado a sua idade.
Claro que este foi apenas o “pontapé” para um novo ciclo. Deixei muito claro a ambos que novos hábitos teriam que ser formados e isso iria requerer esforço e desejo de mudança.
O meu desejo com este relato é alertar às famílias que o falso controle está muito presente em nossa vida. Que possamos abrir nossa mente para a compreensão de que controlar não é possível, mas se fazer presente, orientar, acompanhar, acolher, ajudar é o nosso papel.
Gostaria, também, de orientar aos pais que se interessem pelo que os filhos estão fazendo: o que acessam na Internet; o que negociam; onde gastam o dinheiro que ganham em mesadas ou datas comemorativas; por onde têm “andado” no mundo real e virtual. Encantar-se com filhos “empreendedores” é fácil. Agora, interessar-se em acompanhar o passo a passo de seu empreendedorismo é o segredo. Com quem estão negociando? Quem tem o controle? Controle! Controle?