É obrigação nossa proteger as crianças da exploração sexual e de todo conteúdo que antecipe uma fase ou as insira em um conceito distorcido sobre sexo. Sabemos que estamos vivendo um mundo onde as músicas, filmes, propagandas, novelas, estão propagando uma sensualidade e uma sexualidade intensa. E o que fazer diante disso?
A preocupação vai além dos nossos lares. Hoje prioridade para muitos governos e organizações privadas é promover reflexões e campanhas de proteção às crianças quanto à exploração sexual infantil. Embora haja esforço e estudo, sabemos que isso não tem sido suficiente para tratar a ameaça que a pornografia dos adultos representa para as crianças.
Hoje contamos com uma cartilha que faz um panorama sobre os principais conceitos que envolvem a violência contra crianças e adolescentes, especialmente quando o que ocorre é a violência sexual. O objetivo da cartilha é difundir esse tema para cada vez mais pessoas, aumentando a consciência sobre o assunto, sobretudo nos espaços corporativos. A cartilha faz parte de uma ação da Campanha de Prevenção à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, uma iniciativa conjunta do Poder Público, setor empresarial e sociedade civil. “Trata-se de uma realização do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (PNVSCA) – uma área da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, que é vinculada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Em parceria inédita com o PNVSCA, participam também da campanha importantes empresas brasileiras dos mais diversos setores, bem como o Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, a Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) e o Centro de Referência Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria).”
O art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei Nº 8069/90), assegurado pelo art. 227 da Constituição Federal de 1988, aponta que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito: à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O Estatuto ainda garante que crianças e adolescentes devem ser protegidos de toda forma de: negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
As leis e as preocupações do governo e das famílias só se efetivarão se colocado em ação o cuidado de proteção aos nossos filhos. Impossível privá-los de tudo (ouvir músicas, filmes, etc.), mas totalmente possível escutá-los e orientá-los para fortalecê-los para se defenderem de tudo que os levam para exploração sexual.
A pornografia adulta é uma ameaça para adultos e crianças das mais variadas formas. Primeiro porque vende uma imagem de sexo fantasiosa, agressiva, vulgar e desrespeitosa, totalmente física e sem envolvimento amoroso. Sexo pelo sexo. Performance para satisfação do outro. Uma preparação sutil para normalidade e para atrair “presas” fáceis. Se adultos não estão emocionalmente preparados para discernir o real do fantasioso, imagine uma criança.
Pessoas que buscam vítimas utilizam-se do recurso pornográfico para atrair crianças e adolescentes. Percebe-se um caminhar bem característico. Utilizam a pornografia adulta até inserir a pornografia infantil. As crianças imitam com outras crianças o comportamento que veem na pornografia adulta. E se tornam uma vítima fácil para que imitem o mesmo comportamento com adolescentes e adultos.
Instalado o vício pornográfico, deparamos com crianças destruídas emocionalmente, pois misturam o prazer sentido com a censura que possuem internamente pelos valores familiares. Esta mistura de sensações com o tempo as deprime e as isola.
O comportamento das crianças e adolescentes que se iniciam ao vício pornográfico é bem parecido com o vício de drogas. As pessoas que são viciadas em pornografia requerem classes mais declaradas e incomuns de material sexual conforme avança o tempo. E, assim como as drogas, surge a necessidade crescente de mais estímulo para alcançar o mesmo efeito inicial.
Crianças e adolescentes mostram um comportamento tendencioso à repetição do que veem. Na pornografia, não são meros consumidores passivos; assim como os demais comportamentos apreendidos, as crianças e adolescentes passam a reproduzir tudo que aprendem.
Com o uso inadequado da tecnologia (sabemos que a tecnologia veio para agregar desde que tenhamos um filtro criterioso), as crianças estão expostas e com facilidade podem entrar na maioria das páginas web comerciais que distribuem pornografia adulta. Infelizmente basta um clique para dirigir gratuitamente e sem restrições ao espaço adulto. Com pais muitas vezes distantes deste momento, as crianças se tornam presas fáceis da curiosidade.
A família tem um papel fundamental de proteção a seus filhos. Precisa ensiná-los a se protegerem de todo conteúdo inadequado. Acontece que a falta de diálogo, a inocência de achar que este mundo está distante do seu lar e o acesso à internet de qualquer local e na palma da mão, deixam as crianças bem fragilizadas ao assédio.
Sabemos que adultos utilizam desta fragilidade familiar (ausência de acompanhamento e orientação) para aliciar e despertar as crianças para este mundo. Este despertar faz novas vítimas que alimentam o aliciador em seu vício doentio.
Muitos estudos revelam que o acesso à pornografia ficou facilitado pelos recursos tecnológicos. Antes o acesso era por meio de revistas e vídeos, o que fazia com que o consumidor tivesse que mostrar a cara na banca de revista, lojas ou locadora. Hoje se escodem em seu mundinho acessível e acreditam que estão protegidos ou no anonimato.
Os estupros coletivos, os abusos sexuais entre crianças de idade próxima têm sido frequentes nos meios em que elas se reúnem: família, igrejas, bairro, condomínios, escolas, clubes. Precisamos entender o motivo que as leva a tais atrocidades. Não seria o comportamento repetido? O vício pelo prazer a qualquer preço? A ausência do respeito e do amor?
Observamos crianças de 6 anos que já tiveram contato com conteúdos pornográficos e se sentem atraídas pela curiosidade, a emoção do escondido e o prazer físico que isso lhe desperta.
E como combater esta curiosidade, o assédio constante, o prazer físico e emocional e a atração pela repetição do aprendido? Tendo muito forte em mente que temos o dever de educar e cuidar das crianças. Precisamos oferecer uma educação baseada em valores morais, destacando a dignidade da pessoa humana. Promovendo a reflexão sobre os direitos e deveres. O respeito acima de tudo. Precisamos ser responsáveis pelo combate a esta exposição e ao assédio que as nossas crianças estão sofrendo. Gerar saúde física e emocional é a nossa obrigação.