Tivemos um ano de 2017 cheio de incertezas e lamentações. Adultos correndo atrás do êxito profissional e financeiro. Instabilidade financeira e emocional. E onde entram as nossas crianças?
O estresse e a impaciência; a pressão e a exaustão; as expectativas e as frustrações perduraram ao longo dos últimos anos e na virada, as comemorações foram recheadas de desejo de um novo ciclo. Um novo ciclo como se tudo ficasse para trás, como um passe de mágica. Como dizem os adolescentes, virada de ano com problemas para trás, só que não. Viramos os anos e continuamos enfrentando as situações, mas com novas esperanças.
E onde entram as nossas crianças? Pergunto novamente. Bom, elas ficaram em meio as nossas decepções conosco mesmos e com o País. Elas estavam nos momentos das nossas raivas e impaciências. Elas presenciaram nossas queixas e desânimos.
E como elas chegaram ao novo ano? Chegaram ainda carregando um ano difícil, no qual tiveram que lidar com seus medos, as hostilidades, os exageros nas correções ou as ausências dos ensinamentos familiares pela falta de tempo. Elas chegaram sedentas de momentos mais agradáveis emocionalmente.
Todo este cenário me faz lembrar o número de crianças que adoeceram física e emocionalmente. Como foi preciso cuidar das crianças no último ano. Como educadora, tive que fazer escutas de qualidade para entender as queixas constantes de dores de cabeça, dor de barriga, estomatites, gastrites e muitas “ites”.
Além das doenças psicossomáticas, a impaciência que recebiam foram oferecidas aos colegas, cuidadores e educadores. As nossas crianças estavam muito mais suscetíveis aos conflitos. Claro! Insatisfação interna e externalidade.
Diante disso, o que fazer? Vamos refletir? Vamos pensar sobre como podemos mudar a energia envolta a nossa família. É preciso nos observar e observar os nossos amados para entender o caminho que estamos tomando, o rumo que estamos gerando.
Ontem, em uma roda de conversa em um programa de televisão do qual participei, uma fala ficou muito forte: “Somos responsáveis pelas nossas crianças. Adultos assumam o seu papel”. É isso mesmo! Se decidimos ter filhos, a decisão precisa vir com uma tomada de consciência de que sou responsável pelo mundo que apresento a eles. Tenho gerado confiança em meus filhos? Promovo ambientes seguros? Mostro um caminho de esperança? Proporciono harmonia familiar? Que relação estabeleço com o trabalho e os estudos como exemplo? Que mundo mostro a eles?
De repente, deparamos com filhos teimosos, birrentos, insatisfeitos, aparentando infelicidade, desânimo escolar, agressividade, com enfrentamentos aparentemente gratuitos e não percebemos que promovemos isso quando não destinamos tempo suficiente para os momentos difíceis enfrentados e queremos apenas estar com eles naqueles momentos prazerosos. Precisamos melhorar a qualidade dos diálogos quando as coisas não estão fáceis para família. Diálogos que gerem conhecimento dos fatos de uma forma adequada para as idade, mas que gerem segurança, esperança, garra para o enfrentamento.
Estarmos atentos às perguntas dos nossos filhos é essencial para conhecer o que passa na cabecinha deles. Quando perguntarem algo, não responda de imediato. Devolva a pergunta para ver se você penetra ainda mais no universo deles. Exemplo: “Papai, a crise financeira é porque o dinheiro está acabando?” Você devolve: “O que o dinheiro significa para você, qual a importância dele em nossa vida, filho?” Desta forma, você poderá perceber se ele está apenas reproduzindo notícias ou está preocupado de perder aquilo que o dinheiro proporciona. Uma criança com medo ou insegura carrega esses sentimentos para onde ela vai, incluindo a escola. E, de repente, além de tudo o que enfrentamos no mundo adulto, ainda teremos que lidar com fracasso escolar oriundo de preocupações das crianças e não por dificuldade de aprender.
Reforce o amor que você tem pelos seus filhos não só com declarações verbalizadas, porém com atitudes que comprovem o amor. Atos valem muito mais que palavras. As crianças precisam se sentir amadas pelos seus pais. Então, está na hora de marcar mais presença com diálogos que permitam aos filhos externalizarem que visão de mundo estão tendo, como lidar com o conhecido, como compreender o conhecido e como traçar caminhos seguros para seguir para um ano de muito mais harmonia, união familiar e sucesso nas relações com a comunidade em que eles estão inseridos.