Pérola é uma adolescente com comportamentos bem característicos da fase: não aceitação do físico, dificuldades em lidar com o conteúdo interno, oscilação nas relações familiares/amizades e dificuldades com a escola.
Por causa do baixo rendimento, ela foi chamada para conversar pela direção escolar. O interesse em entender o que estava acontecendo era grande. Por que caiu tanto o rendimento? Onde está aquela aluna comprometida?
A conversa iniciou falando sobre rotina escolar. Pérola mostrou-se irritada porque sabia que a falta de rendimento não tinha nada a ver com a escola. Seu aprendizado estava comprometido porque estava muito triste com o afastamento de suas amigas.
Acontece que ela não conseguia manifestar tal situação. Ao longo da busca por entender o que estava acontecendo, Pérola começa a chorar e diz: “Eu não tenho direito de estragar o dia das minhas amigas. Tenho muitos problemas e não sou uma boa companhia.”
O desabafo trouxe um choro longo e doído. Ela havia se afastado das amigas por não se achar interessante no momento e, consequentemente, as amigas sofrendo a indiferença acabaram por se afastar também.
Estava ali instalado um círculo que ela não conseguia romper. E muito menos enxergar. Por se achar “chata e problemática”, queria poupar as amigas. E será que as amigas concordavam que ela as estava incomodando?
O diálogo procedia fazendo-a refletir sobre cada desabafo. A intenção era fazê-la perceber que muitas vezes nos afastamos das pessoas por nos julgar ou julgá-las sem a menor chance de manifestação e comprovação do “achismo”.
A cada reflexão ela se abria mais para o entendimento da situação. Pérola precisava de escuta e ajuda. O acadêmico era apenas consequência. Precisava resolver as dores internas e o relacionamento conflituoso.
Pérola aceitou participar de uma roda de conversa com as amigas. A mediação era apenas para assegurar que a linguagem seria compreendida. E assim foi feito. Pérola falou de suas dores e explicou sua reação. As amigas mostraram os sentimentos e as interpretações. À medida que iam esvaziando os mal-entendidos e os sentimentos ruins, os sorrisos e os olhares iam se encontrando.
De adolescente que se sentia complicada, à medida que ouvia as amigas ela pôde perceber o quanto ela era importante e como ela conseguia ajudá-las com as suas vivências dolorosas. Era impressionante ouvi-las e senti-las.
Pérola percebeu que não precisa afastar por sentir que sua vida era complicada demais para dividi-la. As amigas entenderam que a dor interna a fez tomar essa atitude. O abraço coletivo trouxe a chance de estarem juntas de novo. Pérola não precisava seguir sozinha. As amigas podiam continuar realizando trocas com a Pérola.
Quanto ao rendimento escolar? Ah, agora é aguardar. Elas saíram combinando que iriam estudar juntas. Acredito que agora o acadêmico terá espaço. Que a aprendizagem entrará no lugar que estava ocupado com a dor e a incerteza.
Muitas vezes nossos filhos deixam de aprender por estar com o emocional invadindo seus pensamentos e sentimentos. Precisamos escutar mais e ajudar a administrar aquilo de que muitas vezes nem os adultos se dão conta, mas em que uma forcinha faz toda a diferença.