Os nossos adolescentes não estão tendo a oportunidade de descobrir os prazeres de se sentarem em grupo para longos bate-papos com amigos. Estão sempre com um aparelho de celular na mão, consultando as mensagens constantemente, entrando nas redes sociais por um manuseio automático e viciante. Perdem a sequência de um diálogo presencial, não usufruem do “olho no olho” e, muitas vezes, não estão em lugar nenhum, nem com as pessoas virtuais, nem com as pessoas presenciais.
As reuniões familiares elucidam esta dificuldade atual. Adolescentes, crianças e adultos demonstram dificuldades de se desconectarem do celular.
E ainda ressalto que as redes virtuais de relacionamento social oferecem uma realidade interessante: aproximam pessoas as quais estão distantes fisicamente, enquanto podem nos afastar de quem está perto. Com certeza, você já assistiu a uma cena dessas, infelizmente. De repente, todos, no mesmo ambiente, com os olhos no aparelho, sem observar quem está ao lado. Sem perceber as necessidades um do outro.
Aqui chamo a atenção para que haja uma reflexão sobre essa linha tênue entre a navegação constante e o vício nas redes sociais.
A minha escrita veio após me deparar com uma pesquisa que retrata que o brasileiro gasta mais de 3 horas por dia utilizando as redes sociais. E o que isso afeta? Nota-se que existe um considerável comprometimento da rotina e vai na contramão dos atuais argumentos da modernidade sobre a falta de tempo.
Adolescentes enfrentam a angústia de se perceberem não produtivos na vida acadêmica e um dos fatores, certamente, é o uso excessivo dos aplicativos virtuais.
Aonde vão, levam o celular. Não o desconectam por nada. Almoçam usando o aparelho, não saboreando, ou tendo consciência do que estão se alimentando, se de forma saudável, e, muitas vezes, deixando de se alimentar o suficiente, ou se alimentando em exagero. São hábitos que promovem consequências para a saúde física e emocional.
Outra observação diante das ações dos adolescentes, é perceber o incômodo que demonstram diante de um local que não apresenta acesso à internet. Ficam perdidos, ansiosos e até nervosos. Inúmeras vezes, negam-se a participar de algo social ou familiar se já sabem da privação virtual.
O comprometimento vai além do acadêmico, para o adolescente: a rotina virtual é tanta que os prejuízos são sentidos no desempenho profissional e nos relacionamentos reais.
O isolamento social gera um prejuízo quase irreversível. Os adolescentes estão perdendo uma boa fase da vida.
As interações presenciais não chamam a atenção da maioria dos usuários dependentes da tecnologia. Demonstram preferência por ficarem mergulhados no ambiente virtual. Em sua maioria, os adolescentes já perderam o prazer em passeios, abandonaram a leitura, não sabem se divertir ou buscar qualquer fonte de lazer sem ser a virtual.
Deixam a família, isolando-se em um cômodo da casa, rejeitam amigos que querem algo diferente das redes, geram um mundo próprio muito preocupante, alheios à realidade.
Alguns adolescentes já confessaram que lutam ou lutaram para reverter este hábito gerador de dependência. Porém, relatam o insucesso em suas tentativas. A necessidade de consumir o virtual é sempre mais forte e o comportamento se torna compulsivo/viciante.
Uma das consequências detectadas, também, são as constantes oscilações de humor. O sentimento de fracasso por não ter autocontrole gera sentimento de impotência. A frustração aparece e a baixa autoestima também.
Outra evidência deste comportamento vicioso nas redes sociais é a dificuldade de aproveitar as experiências reais. O dependente não consegue curtir o momento presente, descansar, divertir-se e relaxar. Fica fixado em registrar o que está fazendo através de fotos ou vídeos e volta para as redes sociais para divulgação com postagens. Transporta o presencial para o virtual e volta ao ciclo. Depois, mostra-se totalmente dependente da quantidade de likes e comentários no post, como se isso fosse muito importante. Aquilo que poderia virar um registro de memórias ou um portfólio, torna-se passaporte para a popularidade.
Claro que estes adolescentes não se percebem viciados neste hábito. E ficam enormemente contrariados com aqueles que tentam alertar para este comportamento e suas consequências.
A dependência das redes sociais não está ligada somente à quantidade de horas que a pessoa passa conectada. A principal diferença entre os adolescentes saudáveis e os dependentes é o descontrole do impulso: eles simplesmente não conseguem interromper o comportamento.
O uso excessivo das redes sociais promove um impacto na vida do adolescente e provoca prejuízos funcionais e emocionais:
- comprometimento de atividades físicas e ao ar livre, devido ao tempo gasto;
- perda de foco em relacionamentos reais;
- autoestima baixa, pelas frustrações e pelo excesso de comparações com as vidas apresentadas nas redes;
- isolamento social e até fobia social, síndrome de pânico e ansiedade;
- melancolia, tristeza e até depressão.
Sugiro muita atenção a esse consumo de internet. Sobretudo, nessa fase na qual deveriam estar focados nos estudos, aproveitando aprendizados familiares e obtendo vivências sociais.