O momento é delicado, sofrido e muitas vezes desperta sentimentos ruins em nós: crise econômica! Como lidar com essa crise sem que afetemos tanto as nossas crianças? Elas são capazes de entender e aprender, basta sabedoria de nossa parte. E como adquirir sabedoria em um momento a que também estamos nos adaptando?
Tudo que surge em nosso mundo adulto precisa ser refletido e digerido antes de deixar as crianças participarem. Hoje presencio pais se aconselhando com as crianças. Triste, né? Com isso nossas crianças estão sendo obrigadas a amadurecerem muito cedo, sem o mínimo preparo cognitivo e emocional. A crise econômica está aí para nos desafiar em nossa missão de sermos pais assertivos. Se encararmos todas as situações como oportunidades de ensinar algo para os nossos filhos, essa missão se tornará menos pesada.
O primeiro passo é rever os nossos próprios valores, afinal só conseguimos fazer com que o outro entenda o que ensinamos se estamos seguros em nossa fala e se a nossa prática corresponde com a nossa teoria. Então, nada de “pregar” o que não irá fazer como exemplo.
Desenvolver o conceito do que é necessário e o que é desejo será o nosso segundo passo. Explico: a criança precisa desenvolver o conceito do que ela necessita e do que é uma simples vontade ou modismo. Se exercitamos esse pensar, teremos muitas chances de promover a sua formação voltada para o SER, totalmente desfocada do TER.
Os pais muitas vezes afoitos em gerar momentos felizes aos nossos filhos, acabam por comprar o que ela aponta em uma determinada loja sem ao menos refletir se é algo que contribuirá para o desenvolvimento de seu filho ou algo que irá alegrá-la momentaneamente. Já perceberam que o interesse da criança passa rápido? Mudar o foco da compra pode ser um bom exercício para a sua percepção. Você irá perceber que o interesse muitas vezes é momentâneo e por isso ela abandona tão rapidamente o brinquedo adquirido e já parte para pedir outro. Ela aprende a ter prazer em comprar e não em brincar. Nasce então, mais um consumista neste mundo tão recheado de pessoas focadas no ter e aparecer.
Ter e aparecer? É, infelizmente, nossos bebês estão aprendendo a comprar e mostrar. Ele sente prazer em comprar, depois sente prazer nos comentários sobre o que comprou e, quase que imediatamente deseja ter esse prazer de novo. Pareceu viciante? Verdade! Consumismo vicia. Queremos nossos pequenos viciados em prazeres breves? JAMAIS! Hoje o prazer é em TER e amanhã? Prefiro nem imaginar os vícios que poderão surgir para gerar pequenas satisfações.
Outra situação muito vivenciada nos dias de hoje é a compensação de algo que a criança fez com dinheiro. A criança ajudou em casa, recebe dinheiro. Tirou nota alta? Lá vem mais um dinheirinho. Essa atitude da recompensa financeira tem gerado crianças muito focadas no dar para receber. Faço se me pagar. Estamos transformando, sem querer, os nossos filhos em verdadeiros avarentos, completamente focados no dinheiro. E como recompensar financeiramente em tempos de crise? Pois é, se eles aprenderam a colaborar se receberem dinheiro, como irão colaborar com o economizar?
Por isso devemos cuidar muito da educação de nossos filhos voltada para a formação de um pensar consciente, mostrando os valores importantes da família focados na contribuição dos deveres e rotinas familiares, na importância da reflexão sobre aquisições que envolvam finanças, mostrar o que é importante para família e o que é vontade de consumir, falando sobre o momento de adquirir e o momento de retrair.
Falar sobre o momento econômico do país, explicar sobre políticas públicas e destilar toda a sua ira sobre o atual momento não construirão absolutamente em nada no crescimento da criança, ela se sentirá impotente e não poderá mudar esse quadro, é distante dela essa realidade. Fazê-la entender a “crise econômica” ou o momento de prosperidade será essencial para que ela cresça equilibrada e certa de como agir consciente e madura nesse mundo que a impulsiona a cada segundo a ser uma consumidora compulsiva. 10